A Petrobras propôs ao IBAMA um cronograma para a vistoria da base de atendimento à fauna de Oiapoque (AP) e a Avaliação Pré-Operacional (APO), parte do licenciamento para o poço que quer perfurar no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas.
No ofício enviado ao IBAMA, a Petrobras pede que a sonda que designou para perfurar o poço no litoral do Amapá seja vistoriada nesta semana, informaram Folha, Valor e Agência Infra. A plataforma está na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, para a remoção de coral-sol, espécie invasora presente em seu casco.
A petroleira ainda propõe que a base de Oiapoque e três embarcações que serão usadas no APO [um simulado da perfuração e de vazamento de petróleo] sejam vistoriadas pelo Ibama entre os dias 23 e 27 de junho. Os barcos, de recolhimento de petróleo e resgate de animais, estarão em Belém.
Concluídas essas etapas, a companhia diz que espera começar o simulado da perfuração na semana do dia 14 de julho. A companhia acredita que, se o teste for bem sucedido, terá cumprido todas as etapas para obter a licença.
Enquanto isso, na última 6ª feira (30/5), a sede da Petrobras foi coberta por faixas e cartazes com mensagens contra a exploração de petróleo e seus efeitos ao meio ambiente, destacaram Folha, UOL, Terra, InfoMoney e MoneyTimes. “Amazônia ou Petróleo: de que lado você está?”, dizia uma faixa, apontando a incoerência do governo brasileiro de seguir apostando na exploração de petróleo na Amazônia, enquanto busca se posicionar como liderança climática global.
Algumas colagens mostravam animais e uma criança cobertos de óleo. Outras tinham frases como “Ondas de calor Rio 60°C” e “Enchentes, alagamentos e deslizamentos: um oferecimento, Petrobras”, chamando a atenção para os efeitos das mudanças climáticas e sua relação com a queima de combustíveis fósseis.
A ação foi promovida por 350.org, COIAB, Nossas, Observatório do Clima (OC), GTA, Arayara e Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis. Além do protesto, o ClimaInfo, que participou da ação, divulgou um levantamento mostrando o impacto do petróleo da foz do Amazonas nas emissões – e por consequência no clima do planeta.
Com base em dados da Petrobras e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre as possíveis reservas de petróleo e gás fóssil na foz, Shigueo Watanabe Jr., pesquisador do ClimaInfo, calculou que a exploração de combustíveis fósseis na região pode resultar na emissão de até 4,7 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente. O volume é superior às emissões acumuladas do desmatamento no Brasil nos últimos cinco anos, incluindo na Amazônia, detalhou o Vocativo.
Em entrevista ao podcast “Entrando no clima”, d'((o))ec0, a coordenadora de Políticas Públicas do OC e ex-presidente do IBAMA, Suely Araújo, reforçou a contradição do governo brasileiro com seu afã de explorar petróleo na foz do Amazonas enquanto tenta ser líder climático global. “Mesmo que esse petróleo que venhamos a produzir seja exportado, ele vai gerar aquecimento global onde for queimado. Pode até não contar nas emissões brasileiras diretamente, mas vai contar nas emissões de algum outro país”, disse a especialista.
O editor de meio ambiente global do Guardian, Jonathan Watts, também aponta que o presidente Lula se juntou ao lado da indústria petrolífera. Sobretudo após a “boiada” que o Senado passou com a aprovação do PL da Devastação (2.159/2021) e os ataques misóginos, machistas e racistas contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
“Após os ataques a Marina, Lula a defendeu publicamente. Mas não assumiu sua responsabilidade por deixá-la exposta. Tampouco assumiu as contradições de sua própria promessa de atingir o desmatamento zero até 2030 e seu apoio a projetos evidentemente incompatíveis, como a exploração de petróleo na costa da Amazônia, a pavimentação da BR-319, que abriria a floresta entre Manaus e Porto Velho para maiores atividades de desmatamento, e a Ferrogrão, que aumentaria a pressão por mais plantações de soja”, frisou Watts.